A arte é sempre uma questão de forma. Comunicar-se, expressar-se, é questão de forma. Quando a forma muda, o significado também muda: a invenção da imprensa trouxe novas possibilidades para se contar histórias, novas perspectivas sobre os seres humanos, novelas… Nova forma, novo ponto de vista, novo significado.
A escrita começou sobre uma pedra, logo o papel mudou tudo. Recentemente as telas mudaram radicalmente a maneira de nos comunicarmos, de contarmos histórias, de nos deixarmos envolver pela linguagem.
Uma história é uma história, não importa se ela é contada por um avô a os netos em volta de uma fogueira em noite de inverno, se está composta com letras e outros recursos audiovisuais na pagina de um tablet, ou impressa nas páginas de papel de um livro.
Agora estou escrevendo sobre uma tela, uma página de luz.
De fato, faz já muitos anos que minhas escritas (e minhas leituras) ocorrem, na maioria, em frente a uma tela, aliás, como quase todo mundo. Ao dizer isso, não me esqueço de que as telas são filhas do cinema, da linguagem da luz e do som. Escrever com luz: a primeira de todas foi a língua das sombras.
Como Adéle du Lac* disse uma vez:
Para minha filha de sete anos, contar uma história implica, naturalmente, o uso de palavras e/ou desenhos e/ou fotografias e/ou sons e/ ou imagens em movimento. Além disso, ela pode aprender a usar e combinar diferentes aplicações de escrita/desenho/montagem, com muita facilidade.
A primeira linguagem escrita das crianças é o desenho. Quando apreendem a escrever pela primeira vez a letra “a” pensam, todavia, que estão desenhando. Em outra dimensão, a escrita viva mais antiga da humanidade, o chinês, há 4.000 anos, segue dominada pela imagem: os pictogramas, mais conhecidos como «caracteres».
De fato, a linguagem humana originou-se daquelas primeiras inscrições sobre a pedra, as imagens. Mal comparando, que primitivos e naif são os emojis de hoje!
Quando visito o Facebook de amigos japoneses, chineses ou coreanos, novas imagens icônicas surgem por todas as partes de seus textos. E, ainda que eles liderem, não se trata em absoluto de um fenômeno somente asiático. Cada vez mais pessoas, em todo tipo de cultura, se expressam e dialogam por meio de fotografias., desenhos e imagens animadas e, às vezes, sem palavras.
Esses fatos e reflexões levaram-me a uma conclusão que expressei, recentemente, em forma de pergunta dirigida aos estudantes que assistiram à minha conferência Ler e escrever em páginas-tela:
Uma nova linguagem popular está se desenvolvendo e transformando radical e rapidamente a(s) escrita(s). Ninguém sabe, com certeza, qual é a sua gramática ou sintaxe. Está, simplesmente, ocorrendo em todas as partes do mundo, ao mesmo tempo.
* Notas sobre a autoria, Adéle du Lac. Ediciones Del Caracol, 2008.
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